quarta-feira, 24 de julho de 2013
O pau dos tubarões
Calculo que a origem do universo se possa traduzir pela imaginação de vários começos, coincidentes e ao mesmo tempo sucedentes, no sentido de uma reocupação, ainda em acontecimento.
Num território sem fronteiras de espaço/tempo definitivas, os acontecimentos traçam cada um a sua linha originária, quase paralelas.
Como no espectro sonoro de um som complexo, só a multiplicidade das linhas poderá vir a desenhar a forma da totalidade da origem, uma aproximação ao absoluto, mas essa forma nunca pode ser descrita por completo. Só a imaginação pode conter esse quadro, porque só a imaginação confere ao esquecimento um lugar volumétrico, um espaço, idêntico ao espaço da memória. A História falha porque só concede espaço à memória.
As linhas de origem são o visível, o traço do que pode ser trazido à memória, entre elas está a tridimensão dos acontecimentos, a extensão, a linha é só a bidimensão deste espaço de raiz cúbica, é neste lugar entre as linhas que há vida.
Esta espécie de paralelismo entre as linhas é real, são as superfícies, mas a imaginação, na falta de signos, e por meio de outras regras de conferir coesão, apaga estes limites, traz o profundo acima, o estranho, o descontinuado fica assim ao mesmo nível que o legível.
Daí às vezes o discurso tomar uma aparência confusa, enigmática, ininteligível.
o pau dos tubarões tem um pico.
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entre as linhas
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imaginada
o pico
tem tubarão
de pau
este discurso
confuso, enigmático
tem cara de urso
"As ideias são como as plantas: têm o seu clima e a sua terra. Por mais que se diga, o eucalipto será sempre exótico na paisagem portuguesa." Miguel Torga