sexta-feira, 26 de julho de 2013

Como abalar as mais altas leis da cidade



o Daniel Lanois, enquanto produtor do Le Noise do Neil Young, dizia numa entrevista que a música que o fez fazer música, era aquela de alguém que tinha visto o mundo, e ver é ver outro, e ver o mesmo de outra forma, ouvir o desconhecido e uma linguagem que o realiza, um código híbrido, dialecto fronteiriço, com os pés de um lado e a boca aberta, do outro, um grito. 
Ele não disse bem assim, não disse nada assim, disse que foi impressionante para um miúdo dos subúrbios de repente ouvir "Foxy lady
I'm comin' to get ya", "oh my goodness, i never thought of adressing sexuality from that particular angle. I want to go NY and be part of the cultural revolution and see foxy lady!"  
diz o Proust  "não desejo uma mulher, desejo também uma paisagem envolta nessa mulher, enquanto não desenrolar essa paisagem não ficarei satisfeito."

e o Deleuze "desejar é delirar, delira-se sobre o mundo inteiro, a geografia, as tribos, os desertos, os povos, as raças, os climas;
o delírio é geográfico-político."

E é geográfico-político em si mesmo, por si só, e a linguagem que o realiza é esse código híbrido, uma língua de ritmo, que não se pode reduzir a palavras de ordem ou propaganda ideológica, é quando desejar uma mulher ou um homem é delirar um mundo outro.

E como depois do belo vem o terrível,

"Portanto, resumindo em poucas palavras, devem os encarregados da cidade apegar-se a este sistema de educação, a fim de que não lhes passe despercebida qualquer alteração, mas que a tenham sob vigilância em todas as situações, para que não haja inovações contra as regras estabelecidas na ginástica e na música. Acautelem-se o mais possível, com receio de, se alguém disser que os homens apreciam acima de tudo o canto que tiver mais novidade, se julgar talvez que o poeta quer referir-se não a cantos novos, mas a uma maneira nova de cantar, e que a elogia. Tal coisa não deve louvar-se nem entender-se assim, porquanto deve ter-se cuidado com a mudança para um novo género musical, que pode pôr tudo em risco.
É que nunca se abalam os géneros musicais sem abalar as mais altas leis da cidade, como Dámon afirma e eu creio"

PLATÃO, República, 424 b-c







1 comentário:

  1. sugeres-me também Ortega y Gasset, que eu sou eu e a minha circunstância, e que a vida humana é uma realidade onde surgem outras realidades.

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